Fonte: http://laurentinogomes.com.br/blog/
Em 1889, Mato Grosso era uma província isolada e distante dos centros
de decisão do império brasileiro. Como ainda não havia estradas,
ferrovias ou qualquer outro meio de comunicação por terra, a viagem do
Rio de Janeiro a Cuiabá era feita de navio pela Bacia do Prata, com
escalas em Buenos Aires e Assunção. Apesar disso, Mato Grosso teve uma
participação importante nos acontecimentos que levaram à Proclamação da
República.
O principal protagonista dessa grande transformação na história
brasileira, o marechal alagoano Deodoro da Fonseca serviu ao exército
duas vezes no Mato Grosso. A primeira foi ainda com a patente de capitão
em 1858, cinco anos antes do início da Guerra do Paraguai. Em Cuiabá,
Deodoro casou-se em 1860 com Mariana Cecília de Sousa Meireles, órfã de
um capitão do exército e um ano mais velha do que ele. O casal nunca
teve filhos.
Três décadas mais tarde, Deodoro voltaria ao Mato Grosso, desta vez
já na condição de líder da conspiração militar que levaria à queda do
império. No final de 1888, o governo buscava um motivo para afastar o
marechal do Rio de Janeiro e do centro da chamada Questão Militar, que
colocava as liderenças do exército em confronto com a monarquia. O
pretexto surgiu quando Paraguai e Bolívia romperam relações em virtude
de uma disputa territorial na região do Chaco. Temia-se que uma guerra
entre os dois países pudesse ameaçar as fronteiras do Brasil.
Com a desculpa de que o clima de tensão exigia a presença de um
oficial de alta patente na região, o Ministério da Guerra despachou
novamente o marechal para Mato Grosso com a dupla função de Comandante
de Armas da província e chefe de uma expedição militar de observação das
fronteiras. Deodoro embarcou para Cuiabá em 27 de dezembro, mas, ao
chegar a Mato Grosso, Deodoro deu-se conta de que fora, de fato,
atraiçoado. Não havia muito que fazer ali.
A disputa entre Bolívia e Paraguai estava longe de representar
qualquer ameaça aos interesses brasileiros. Surpresa maior ele teve ao
ser informado de que o governo havia nomeado para administrar o Mato
Grosso o coronel Cunha Matos, também personagem da Questão Militar. Na
condição de Comandante de Armas da província, Deodoro estava subordinado
ao novo governador. Portanto, ele, um marechal, iria responder a um
coronel! Por fim, Deodoro recebeu a notícia de que o conselheiro Gaspar
Silveira Martins, seu rival na vida privada e na política gaúcha,
acabara de ser nomeado para a presidência da província do Rio Grande do
Sul. Foi a gota d’água.
Irritado com o que julgava ser uma afronta direta aos seus brios
pessoais, o marechal abandonou o posto sem antes pedir autorização e
tomou um navio de volta para o Rio de Janeiro sem nunca ter exercicio as
novas funções no Mato Grosso. Era já um copo transbordado de mágoa.
Dali à queda do império seria apenas uma questão de tempo.
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